Português 10º Ano Página Pessoal
sábado, 4 de junho de 2011
Sobre "O vagabundo na esplanada"
Algumas palavras sobre o conto "O Homem" de Sophia de Mello Breyner
Breves notas sobre o “Retrato de Mónica” de Sophia de Mello Breyner
De acordo com o título, o Retrato de Mónica não é propriamente narrativo, mas descritivo. É um texto dominado pela hipérbole e pela ironia.
Ao contrário do que parece sugerir o ambíguo início do conto, a narradora tem perante a protagonista uma atitude muito negativa; Mónica é realmente um compêndio da maldade.
Ao recusar os três valores determinantes da poesia, amor e santidade, ela fica sem coração e torna-se uma impressionante máquina ao serviço da projecção social da sua figura.
Manipula o marido e redu-lo a um apêndice seu; torna-o um nulo, em vez de o valorizar.
Pratica obras de caridade porque parece bem, sem se interrogar porque é que as crianças a quem as suas obras de tricot são destinadas já morreram antes de receberem essa roupa.
Mónica tem uma relação muito particular com o Príncipe deste Mundo. Nem admira.
A expressão Príncipe deste Mundo tem origem no Evangelho de S. João (caps. 12, 14 e 16), onde designa o Diabo, o primeiro responsável por toda a maldade do mundo. Já se vê pois que o Príncipe deste Mundo do conto é uma figura em que a narradora concentra todo o mal. É a versão masculina e superlativada de Mónica.
O Príncipe deste Mundo corresponde sem dúvida ao Homem Importante de O Jantar do Bispo, primeira história da colecção dos Contos Exemplares.
Pela duríssima e exagerada ironia, o Retrato de Mónica aparenta-se com o poema da mesma Sophia As pessoas sensíveis.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Suspensão
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Um mover de olhos, brando e piedoso
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Um mover de olhos, brando e piedoso
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;
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Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Uma pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;
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Um encolhido ousar; uma brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento:
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Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.
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Dos textos de Camões até agora estudados, este é o segundo em que ele usa a primeira pessoa, em que põe em evidência a sua relação pessoal com a mulher a que alude. Neste sentido, há alguma aproximação ao que se passa com as Endechas a Bárbara. Mas mesmo em relação a esse poema, nota-se uma diferença: lá ele usa o presente, aqui pretérito. Lá ele fala duma experiência actual, em curso; aqui parece que tudo é passado.
Este poema compõe-se claramente de dois momentos, um constituído pelas três primeiras estrofes e outro pelo terceto final.
Nas três estrofes, é curiosa a presença constante do artigo indefinido catafórico. Ele antecipa, mas não dispensa aquele pronome esta, esse sim anafórico. Nessas estrofes, o sujeito poético reflecte, rememora os traços marcantes da sua antiga Circe, daquela que o enfeitiçou. Não faz propriamente o seu retrato, mas delineia-o. Ao longo delas, à parte a enumeração, um ou outro encavalgamento, os processos estilísticos estão quase ausentes: é como que uma análise em contemplação.
No terceto final, a chave de ouro, essa abunda em processos poéticos: as hipérboles, a antonomásia e a metáfora.
Repare-se na seriedade com que o poeta trata o tema amoroso… mesmo se ele já não faz a sua felicidade.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Sete anos de pastor Jacob servia
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Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prémio pretendia.
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Os dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.
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Vendo o triste pastor que com enganos
Assim lhe era negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
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Começou a servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora,
Para tão longo amor tão curta a vida.
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Soneto narrativo, de assunto bíblico e pastoril (ou bucólico), esta história de um amor paciente, sofrido é muito ao modo de outras histórias, reais ou imaginadas, que Camões contou nos seus sonetos ou n’Os Lusíadas.
Actualmente, os poemas narrativos são menos comuns.
De notar os jogos de palavras, como “não servia ao pai, servia a ela”, um ou outro encavalgamento (do primeiro verso para o segundo, por exemplo), a repetida utilização do número simbólico bíblico sete, a introdução do discurso directo e da antítese na chave de ouro.
Veja aqui outros poemas camonianos de tema bíblico ou religioso.
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Se Helena apartar
Se Helena apartar
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A verdura amena,
Gados que paceis,
Sabei que a deveis
Aos olhos de Helena.
Os ventos serena,
Faz flores de abrolhos
O ar de seus olhos.
Faz serras floridas,
Faz claras as fontes...
Se isto faz nos montes,
Que fará nas vidas?
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Trá-las suspendidas
Como ervas em molhos,
Na luz de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inumana;
De cada pestana
Ua alma lhe pende.
Amor se lhe rende
E, posto em giolhos,
Pasma nos seus olhos.
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Neste poema, Helena é uma mulher extraordinária. Ele parece começar onde acabam os “Verdes são os campos”, quando a jovem de lá já criava a erva que os gado comiam. O cenário bucólico é comum aos dois.
Notar o que há de atitude “poética” na confidência com a natureza.
O verso central das glosas divide o vilancete em duas partes. As magias anteriores, fá-las a jovem nos montes; o que se segue responde à pergunta: “que fará nas vidas?”
Se tomarmos a primeira parte em sentido mais ou menos denotativo, Helena é, pelo feitiço do seu olhar, aparentada com Orfeu, o poeta que com o seu canto levava atrás de si a natureza. Não será porém impossível tentar ler esses versos em sentido alegórico: verdura, gados, ventos, flores, serras, fontes, montes, falar-nos-iam do amor, da emoção, do gozo, do enamoramento produzidos pela presença de Helena entre os seus admiradores.
Neste caso, a segunda parte diria, em linguagem menos poeticamente cifrada, o que já estava dito na primeira. O feitiço do olhar da jovem mantinha-se igualmente activo.
O vilancete surge carregado de subtilezas, enigmático, em afirmações paradoxais – todo ele é paradoxal.
Atenção às hipérboles (haverá no poema alguma afirmação que não seja hiperbólica?), anástrofes, apóstrofes, anáfora, interrogação retórica... muitas imagens...